OSTRA FELIZ NÃO FAZ PÉROLA. II
“Pois a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação.” 2Co 4.17
Outro dia comprei um livro por duas razões, ou seja, por ter conhecimento de que o autor é um intelectual muito prestigiado nos meios literários e, principalmente, pelo sugestivo título. Trata-se do livro do cronista Rubem Alves cujo título é “Ostra feliz não faz pérola”, da editora Planeta.
A estória fala de uma colônia de ostras felizes que habitava o fundo do mar e dava para se saber que se tratavam de ostras felizes porque “de dentro de suas conchas saía uma delicada melodia, música aquática, como se fosse um canto gregoriano, todas cantando a mesma música”.
Mas fala também de uma ostra que era a exceção, pois tinha um canto solitário e triste. As demais ostras em sua felicidade não compreendiam a razão daquele canto tão triste e riam dizendo: “Ela não sai da sua depressão...”
Não era depressão, era dor.
Um grão de areia alojou-se dentro da concha e atingiu a carne daquela ostra provocando tantas dores. A ostra ferida, não podendo livrar-se da areia, em meio a dor que sentia, ia liberando uma substância lisa que gradativamente ia dando formas arredondada e brilhante ao grão de areia.
Um dia, passou por ali um pescador que acabou extraindo do fundo do mar a colônia ostras, inclusive a sofredora foi pescada.
O pescador entregou as ostras que retirara do mar e sua mulher preparou uma deliciosa sopa de ostras. Quando se deliciava com a iguaria, os dentes do pescador bateram em algo duro que estava dentro de uma ostra. Ao verificar o que se trava, deparou com “uma pérola, uma linda pérola.”
Essa bem poderia ser mais uma linda passagem bíblica.
Muitas pessoas passam por esse mundo, experimentam tragédias pessoais e familiares, mas continuam de forma digna suportando as dores enquanto outras que levam uma vida dissoluta são aparentemente bem sucedidas e parecem não encontrar problemas e obstáculos com os quais tenham que se preocupar, porém, é certo que um dia essas pessoas haverão de revelar o que produziram em suas vidas.
Há um cântico que diz: “os mais belos hinos e poesias, foram escritos em tribulação”. É em meio ao calor extremo que o ouro e a prata são purificados e liberam as escórias, tornando-se metais cada vez mais preciosos. Em meio ao sofrimento produzido pelo minúsculo grão de areia, a ostra produz uma pérola que subsistirá muito além do ciclo de vida daquela ostra que viveu o tempo todo escondida no fundo do mar.
Não precisamos fazer alarde sobre nosso valor, pois diz o ditado que “elogio em boca própria é vitupério”. É necessário que vivamos de tal forma que as pessoas vejam em nós as marcas de Cristo. Nossas vidas devem levar as pessoas a glorificarem o Nosso Pai que está no céu. Muitas pessoas haverão de ver em meio ao sofrimento, pérolas que aparecerão e brilharão com maior intensidade.
Havia na Igreja Primitiva, uma senhora tão maravilhosa no seu serviço, no carinho e amor para com os órfãos e viúvas. Ela morreu, porém, sua falta foi tão sentida que as pessoas lamentavam profundamente a sua partida. Pedro, diante de tamanha consternação, moveu os céus através da oração para que aquela jóia preciosa fosse devolvida para o seio da comunidade.
Não embarque na pregação de que a vida cristã é um mar de rosas. Esse evangelho não é verídico, é uma propaganda enganosa. Mas o evangelho, sendo boas novas, nos garante que mesmo que passemos pelas aflições, pelo vale do sofrimento, Deus está conosco e vai transformar essas experiências em algo maravilhoso e que fará nossos filhos ou nossos netos e amigos, louvarem o nome do Senhor.
Não tenhamos inveja das “ostras felizes”, pois elas não fazem pérolas.
Carlos Souza
Enviado por Carlos Souza em 01/03/2009
Alterado em 02/03/2009