PERSEGUIDOR DE PIPAS?
Quanta nostalgia me trazia aquela brisa gostosa em dias de céu azul, colorido pelas pipas de todos os formatos com suas compridas rabiolas e até mesmo pelas capuchetas feitas com folha de jornal.
Vozes infantis ecoavam pelos descampados e olhos maravilhados não desgrudavam daquele pedaço de papel em evoluções e piruetas produzindo coreografia digna dos palcos mais exigentes.
A preocupação era com o desempenho da pipa e a destreza de quem a empinava.
O que aconteceu ?
As crianças mudaram?
Sei lá!
Hoje, o espetáculo das pipas cedeu espaço a uma competição ignóbil na qual sai vencedor aquele que conseguir subjugar a pipa do concorrente e, para isso, se munem os competidores com linhas muito resistentes e muito vidro moído cuidadosamente aderido em toda a extensão do cordel.
Quantas vidas já foram ceifadas em razão destas linhas se desprenderem e se colocarem bem no trajeto de ciclistas, motociclistas e até pedestres?
A discussão pode descambar para a falta de espaço para o lazer das crianças nas grandes cidades e daí progredir para a desnecessidade dessa mistura perigosa feita sob o olhar de cumplicidade de adultos ou, ainda, na cômoda negligência destes.
Quando vejo uma criança empinando uma pipa, o sentimento que desperta não é de nostalgia e sim de preocupação com a eventual linha com cerol e da possibilidade de um acidente fatal.
Em tempos nos quais a violência grassa e muita gente morre vitimada por balas perdidas, vemos tantas outras morrendo de “linha perdida” e que acabam sempre achando uma jugular a ser cortada.
Será que estou me embrutecendo?
Será que de admirador me tornei em um perseguidor de pipas?
Carlos Souza
Enviado por Carlos Souza em 17/01/2008
Alterado em 17/01/2008