A vida nos reserva momentos pelos quais não gostaríamos de passar, todavia, são incontornáveis, não existem atalhos que possam evitar esses momentos. Hoje amanheci com um encargo desagradável, pois tinha que decidir sobre minha cachorra chamada Laika. Esse animal me foi doado por um amigo, depois que o casal de Akita que possuía gerou uma ninhada de lindos filhotes.
Laika mostrou-se especial desde o momento em que chegou à minha casa. Todos gostam muito dela, com suas brincadeiras meio violentas é bem verdade. Ela gostava de abrir a boca e envolver o braço da gente com seus afiados dentes, porém, tinha a percepção exata da força que deveria empregar na brincadeira para não machucar.
Em 1995 morávamos numa chácara grande o suficiente para as corridas incessantes de Laika e as crianças se divertiam com ela. O caseiro encontrou em diversas oportunidades raposas enterradas em cova rasa abertas pela Laika. Num domingo à noite quando chegávamos em casa, percebi logo ao chegar ao portão que havia algo de anormal com nossa cachorra. Quando o farol bateu nela percebi que tinha algo no focinho e desci para ver o que era. Ela estava com inúmeros espinhos cravados naquela região, fruto da luta com um ouriço. Chamamos o veterinário que anestesiou e retirou os espinhos e no dia seguinte Laika estava boa novamente. Mais tarde ela manifestou uma doença chamada lupus e passou a tomar medicamento de uso contínuo e teve que sofrer várias cirurgias para retirada de nódulos que apareceram.
O Dr. Marcelo vinha cuidando dela há alguns anos e já nos advertira de que Laika estava chegando ao fim de sua existência. Ontem, sexta-feira, Laika acabou prostrada sem forças para se levantar e o Dr. Marcelo foi chamado e a levou para a clínica antecipando que dificilmente ela iria subsistir.
Hoje ele me disse que o quadro dela só piorou e que ela está sofrendo muito. A alternativa que se mostra é a do sacrifício do animal, mas é essa a decisão que não gostaria de tomar. Por outro lado, não sei o que é mais triste, sacrificá-la ou deixá-la sofrendo. Independente de qual seja a decisão, Laika sempre fará parte das boas lembranças minhas e de minha família.
Já não tenho mais coragem de vê-la novamente, prefiro lembrar-me daquela cara grande na portinhola da cozinha e que respondia meus afagos com um olhar quase humano pela gratidão com que me olhava. É um sábado de sol mas por dentro de nós há uma chuva fina e com ar de tristeza e muita saudade.
Carlos Souza
Enviado por Carlos Souza em 12/04/2008
Alterado em 12/04/2008